A Prodsmart foi convidada a dar a sua opinião sobre o futuro da indústria no dossier especial sobre o World Economic Forum, em Davos.
Leia o artigo no Dinheiro Vivo e a entrevista completa abaixo.
Dinheiro Vivo – Como vê o tema da IV Revolução Industrial aplicado a Portugal?
Gonçalo Fortes – A Quarta Revolução Industrial é o movimento tecnológico que representa a próxima fase da manufactura, que implica uma completa digitalização dos sistemas produtivos, interligando máquinas, pessoas e processos. Portugal é um país com uma grande tradição industrial mas que perdeu competitividade e produtividade nas últimas décadas e precisa agora de recuperar. A revitalização do tecido industrial português e o aumento das exportações são uma das prioridades para uma boa recuperação económica do nosso país. Portugal produz muita inovação e é um país de pessoas empreendedoras e corajosas, que não se assustam por enfrentar o desconhecido e a mudança. Penso que estamos em perfeitas condições de adoptarmos e nos adaptarmos a esta revolução que por aí vem, que só irá trazer vantagens.
DV – E no caso específico da sua empresa?
GF- Um dos objectivos da Prodsmart é catalisar a Indústria 4.0 através da adopção em massa dos sistemas que permitem que esta aconteça. Somos um sistema de gestão da produção (MES) na cloud, que usa aparelhos móveis e sensores para recolher os dados directamente do chão-de-fábrica, eliminar completamente o papel e fornecer um conjunto de análises em tempo-real que permite às fábricas reduzir o desperdício na ordem dos 80% e aumentar a eficiência na ordem dos 20%. Isto traz uma redução clara de custos através da eliminação de stocks e redução de prazos de produção, prevenindo paragens e maximizando a utilização dos recursos produtivos.
A tecnologia da Prodsmart actua já em três áreas nas quais a Indústria 4.0 assenta:
– interoperabilidade, no sentido em que todos os “actores” (pessoas, máquinas e processos) de um sistema produtivo estão em permanente comunicação;
– capacidades em tempo-real, dando às fábricas a capacidade de recolher e analisar informação assim que esta acontece e agir imediatamente mediante eventos urgentes.
– orientação ao serviço, visto que o nosso sistema é distribuído na cloud, como se de um serviço se tratasse e não da tradicional aquisição de software muito caro e muito exigente a nível de infra-estruturas. Isto baixa radicalmente os custos de aquisição e o risco da amortização.
Os restantes três pilares (virtualização, descentralização e modularidade) fazem parte da nossa visão futura.
Para além disso, um dos nossos grandes objectivos quebrar as barreiras da fábrica individual e criar um ecossistema de fábricas interligadas em toda a cadeia de valor, permitindo que todas trabalhem em conjunto de forma eficiente e se adaptem caso haja alterações no processo de alguma delas. Por exemplo, uma fábrica de biscoito poderá entregar os bolos que se partiram mas que não têm qualquer problema a uma fábrica de iogurtes que usa esses biscoitos como recheio. A segunda saberá sempre qual a quantidade de iogurtes que pode produzir com base no “desperdício” da primeira”. Queremos acabar com o stock no planeta e transformar a produção numa “barra de download”. Esta interligação irá chegar até ao consumidor final, que poderá ele próprio despoletar o processo produtivo, influenciar os prazos de produção e acompanhar o processo com total transparência e total rastreabilidade dos materiais usados. Você poderá estar a beber café na sua pastelaria preferida e a fábrica que a fornece começará a produzir, sabendo sempre as necessidades dos seus distribuidores finais.
Ajudamos ainda as fábricas a reduzirem a sua pegada ambiental, quer através da redução do desperdício internamente quer através da lógica de “economia circular” que descrevo acima, integrando o desperdício de uns na cadeia de produção de outros.
DV – Que impacto é que esta IV revolução poderá trazer à economia portuguesa? Vai aumentar riqueza?
GF – O impacto será sempre muito positivo. O sector industrial português tem ainda muitas empresas de pequena e média dimensão que começaram como empresas familiares muito baseadas na mão-de-obra barata que o nosso país podia oferecer. No entanto, com a globalização da economia, alterações a leis fronteiriças e taxas alfandegárias e o acesso à informação e velocidade de comunicação que a internet trouxe, a mão-de-obra barata já não representa um factor de competitividade. A revitalização terá que passar forçosamente pela adesão à Indústria 4.0 Para atingir níveis de produtividade elevados é necessário uma adaptação e modernização. Não só dos sistemas e máquinas, mas também dos processos, incluindo sempre as pessoas.
DV – Como se posicionarão os sectores mais tradicionais face a essa revolução?
GF – Modernização tem muitas vezes a ver com dimensão. Apesar de haver muitos casos de grandes empresas em Portugal, com alargada expressão internacional, a maioria do tecido industrial português é constituído por empresas de dimensão muito pequena. Na Prodsmart pretendemos trazer um sistema que se ajusta imediatamente a este tipo de empresas mais tradicionais e trazer uma camada de automação virtual que as grandes empresas conseguem através de máquinas ou sistemas muito caros, muitas vezes inacessíveis a essas empresas.
DV – Que desafios e oportunidades é que ela traz para as empresas?
GF- O desafio é que será necessário aderir ao movimento para manter a competitividade. A oportunidade é que se aderirem ao movimento irão manter a competitividade e crescer.
DV – E em termos de recursos humanos? Como evitamos que se agravem as desigualdades?
GF – Nestas alterações disruptivas de um sector, em que há uma substituição do trabalho manual, o que acontece frequentemente é uma deslocação. Neste caso, uma deslocação para empregos mais seguros e desafiantes, bem como toda a criação de um novo mercado de trabalho, mais ligado ao conhecimento, que será o mercado que irá construir os sistemas físicos e lógicos que irão sustentar a Indústria 4.0.